
Tenho aquela fixação completamente compulsiva, um vício doentio e oco… tenho febre, tenho uma chamada… chamam-me do outro lado da linha, do outro lado da estrada e eu não oiço… oiço ruídos surdos e passadas graves que espero em surdina, em silêncio. Mas não consigo sentir o silêncio, não o consigo ver, a escuridão é ensurdecedora, oiço gritos e ecos e chama-me do outro lado e eu não oiço e caminho em direcção à estrada que não vejo!
E perco-me em danças de estigmas e de quimeras lançadas a um canto e grito e sigo e vejo-te do outro lado e oiço-te numa outra linha e não consigo chegar ao telefone e chamar-te e agarrar-te e tirar-te a roupa sem o saberes e saber se és mesmo tu que vi passar do outro lado, na outra linha. E estremeço e relembro e passeio na corda bamba e perco-me no meio da floresta de gritos em sombras e êxtases de pulsações. E não me vejo mais fora daqui, longe deste lugar dócil de figuras loucas e fantasmas que me acariciam como se fossem vivos e tu a passares do outro lado e passares para este lado e eu saber então que és tu que eu vi passar. E então chega de andar por aqui à procura de barulhos ensurdecedores no silêncio meu, em pinceladas minhas de desenhos que nunca fiz, em corações de giz desenhados na parede do tempo.
Não sei do silêncio das palavras que eram só nossas.
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