sexta-feira, novembro 07, 2008

Praga

As paredes caem sobre os nossos ombros como se um véu nos fizesse sucumbir sob a nossa própria solidão. A noite sobe com as veias aos saltos.

Nunca as pessoas foram tão estúpidas. Nunca a estupidez foi tão cardíaca, tão autónoma. Com os seus pequeninos membros a desenvolverem-se por baixo da sua existência tacanha. Faz-nos obesos e débeis de parvoíce. Ela fala para a multidão e promove bailados de obscenidades, e surgem rostos, muitos rostos, e ninguém pára de dançar porque ninguém vê o tamanho da cova. E já não se sabe o que dizer às pessoas que se desviam do seu rasto de fel, porque ela começou a trepar com os seus pequenos membros o tronco das árvores, e a instalar-se nas raízes, debaixo das pedras, e a demolir os edifícios que criámos com a alma. E tudo à nossa volta cai.

As palavras já não confessam. Só existem, debaixo das pedras, esmagadas, encolhidas. Confessem-nas em delírios. Vão lá buscá-las, pois a vós pertencem.

Talvez elas não sejam afinal mais do que um sopro. 

1 comentário:

Jonny Bel disse...

já escrevias um livrito...