Ela aproximou-se do palco e tentou improvisar uns passos ao som da batida electrizante. Ele olhou-a.
Há muito que não a olhava, há muito que não sabia sequer o que era sentir aquela silhueta de princesa que deslizava pela sala e lhe fugia da trajectória. Sentia a sua falta, doía-lhe a distância daquele rosto.
Ela viu-o mas continuou o seu bailado, prosseguia cumprimentando outras pessoas, a retribuir sorrisos breves e a abanar o corpo lentamente. Ela também o queria, ela também o sentia.
Ele sentia-se cada vez mais um forasteiro, parecia-se estranho naquela noite, naquele espaço onde nada o atraía a não ser o turbilhão de luzes cruzadas no tecto e a sombra da sua princesa. Da sua diva, da sua donzela em perigo que ele queria salvar e beijar, e salvar de novo, e raptar para longe, para ser de novo só sua.
Ela tremia, mas ninguém se apercebia, pois dançava com passos de borboleta graciosa. Tremia por dentro, porque o via mais próximo, e já fazia tanto tempo que não o encarava de frente que tinha a certeza de se desvanecer no momento em que sentisse aquele cheiro e aquela voz. Sentia-se pequena e frágil, tinha medo, por isso dançava, distante.
Convicto, ele avançou. O coração disparava, já não ouvia a música e dava encontrões às outras pessoas. Chegou ao palco onde ela já estava. Sozinha. Como estava linda, pensou.
Ela deixou a pose distante e não resistiu. Sorriu.
Ele pegou-lhe na mão suavemente e sorriu também.
Estavam em frente um do outro, olhava-se como da primeira vez, como se nunca se tivessem olhado. Ambos queriam falar, deixar fluir a emoção que transbordava lá dentro, pedir desculpa pelo passado ou pelo destino. Tudo o que conseguiram foi um olhar interminável, as mãos dele no cabelo dela, no rosto quente, os lábios sôfregos unidos finalmente no beijo tão adiado, no toque tão esperado. Tudo afinal valera a pena. Nenhum deles esquecera aquele toque e aquele rosto.
Ela sorria, mas era um sorriso pleno e feliz. Já não tinha medo.
Ele procurou as mãos dela e disse ao ouvido, num murmúrio: «Vem comigo.»
Ela sorria, sorria muito, beijou-o de novo, abraçou aquele cheiro e aquela pele uma vez mais. E disse que ia com ele, para onde quisesse, porque ia ficar com ele para sempre. Ele também não a queria deixar mais, queria para sempre aquela princesa que dançava com passos de borboleta graciosa.
Ela disse: “Vou contigo até às estrelas, até à ponta do céu que não conseguimos alcançar com os nossos sonhos.”
E foram. Os dois. Fugiram juntos num resgate antecipado, para sempre. Ela; a borboleta princesa. Ele, o forasteiro que já não era estranho, era o seu amor. Tudo isto no flagrante de uma dança de luzes no tecto e de passos ténues de almas perdidas.

(Fev. 2006 - 1 dia depois)
3 comentários:
windooo...
windooo...
tavas inspirada, tlvx c/ algum acntecimnto + marcant...?...
olha copiei o teu txto po meu comput mx n vou plagiar=)))
bju
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