sábado, dezembro 02, 2006

Fragmentos dos ultimos dias

Falta pouco para ir almoçar, sinto o corpo dormente e os dedos quentes demais, a mente esterilizada. O autocarro passa lá fora de 10 em 10 minutos, eu devia estar a estudar para a frequência ou a dormir um pouco, já tomei uma aspirina para a dor de cabeça, e tomei banho, lavei o corpo mas as ideias alienadas continuam lá. Ponho-me a divagar no presente e no passado, recordo dias e sonhos que já não me pertencem, propago as minhas expectativas instáveis em estrelas cadentes que imagino apenas.

Relembro um certo jantar de capas negras… olhares que me marcaram, uma certa cumplicidade, frases quase gritadas pela emoção que me fizeram tremer e pensar, agradecer por estar ali com pessoas que ainda são gente que vive o que sente e sente o que vive, que me fazem sentir mais real, que me fazem sentir em casa. A cada dia me sinto mais sólida, a cada manhã me é mais fácil despertar e sair da cama, gosto do que tenho agora e não mudaria nada. Nem mesmo os passos errados que dei e que ficaram para trás, aquelas fugas de outros tempos, a ingenuidade de confiar em quem não merece o chão que pisa ou o ar que respira. Aprendi a seguir o meu instinto que tantas vezes me atraiçoou, acho que encontrei uma certa estabilidade no caos que é agora a minha vida, nas constantes contradições que vão surgindo e que me fazem pôr tudo em causa. Até gosto da rotina, gostei da noite de ontem com o puto que já me parece como um irmão, das viagens de metro até ao fim da linha, das personagens discrepantes que observo do outro lado do passeio, das conversas fragmentadas que apanho no autocarro, de vidas paralelas à minha, uma delas poderia até ser a minha, uma outra história num outro caminho que não o meu.
[na semana passada]
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Olhei-te pela primeira vez e sorri-te. Não sei bem o que me fez esperar mais um pouco para ver qual era a tua próxima deixa naquela conversa ambígua, mas senti-me inspirada pela brisa da noite. Agora lembro-me que estava bastante frio, tu disseste qualquer coisa sobre o cheiro que trazias no casaco e do barulho que te deixou meio surdo quando tentavas conversar por entre as batidas das colunas. Lembro-me que começámos a caminhar pela rua e os carros pararam para nós passarmos, sei que a certa altura estava tão embrenhada na conversa que nem me apercebi que já era a minha hora. Despedi-me e olhei bem no fundo daquele olhar que descobri por acaso, tens um ar misterioso que me baralha quando me tento concentrar no que dizes, tens uma voz quentinha que quase me embala, ou então sou eu que me deixo levar pela imaginação quando penso nisso.
[ontem]

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