Espreita por cima dos lençóis e redefine a tua noção da vida lá fora. Respira fundo e salta para a água da prancha mais alta, de onde nem vês o chão, os contornos. Deixa os pulmões intoxicarem e a cabeça navegar sem pontos de retorno, sem âncora. Grita mais alto e mais longe que a capacidade das tuas cordas vocais, esgota-te até sentires a vertigem e a exaustão dos membros. Solta a tua mente de preconceitos só desta vez, acompanha-me nesta dança de alienígenas e perde-te como o papagaio de papel desorientado no meio do vendaval. Deixa-me ensinar-te, deixa-me ser eu a contar-te os passos e as incongruências, deixa-me levar-te. Encontra-te nas tuas confissões mais absurdas, arrisca, supera-te. Deixa de lado esse invólucro estereotipado, dança até caíres para o lado, diz a primeira frase que te vier à cabeça, insulta os palhaços hipócritas que tanto desprezas. Bebe, fuma, chora, morre, berra, salta, geme, treme. Caga em definitivo para os outros. Transgride o limiar do bom senso e da sobriedade, estou do outro lado da tela à tua espera.
Vá lá. Agora a sério. Prova que consegues, prova que és mais, melhor. Faz aquele telefonema à pessoa proibida, diz-lhe o que tens entalado no coração desde que partiste. Parte um copo, salta um muro proibido, expulsa os corvos do teu armário. Toda a insanidade começa com pequenos passos, assim como a liberdade. Não custa nada e não dói nem um bocadinho. Dói é deixar espaços vazios e a alma em desequilíbrio.
2 comentários:
quem não arrisca não petisca ;)
beijo
Sabes, já li isto há algum tempo, mas não consegui comentar.
Quando leio algo, tenho que deixar assentar em mim o significado do impulso que as palavras me revelam.
Gosto particularmente destas palavras e deste impulso.
Não te passa as vezes em que secretamente faço em pedaços tudo o que tenho à mão.
E as vezes que berro a plenos pulmões, como se não houvesse amanhã.
Mas tudo sem ninguém dar conta.
Porque o teatro do dia-a-dia é tão absolutamente insuportável como fatal.
Caso contrário, os que amo seriam atingidos pelos meus estilhaços, por mim feita em pedaços.
E por isso não posso concordar contigo quando dizes que não dói.
A dor causada aos meus pelo desenlaçar da minha doce insanidade seria para mim lancinante.
Por isso, prefiro a dor da minha "alma em desequilíbrio", espaços vazios não tenho.
E é por isso que vou transbordando a loucura que me preenche com pequenas mas intensas flamas continuadas. Há quem lhe chame amor.
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