sexta-feira, junho 08, 2007

Apontamento

Hoje acordei novamente com vontade de escrever. Ontem também. Estes dias têm sido assim, tão doces e suaves que quase nos escapam entre os dedos, pela sua graciosidade divina. Sim, tenho andado com vontade de criar. Até me doerem as palavras de tanto abusar delas.

Sinto-me longe e perto, distante do mundo e ao mesmo tempo numa simbiose perfeita com ele. Fantasmas invadem-me o pensamento em busca de respostas que eu não dou não, hoje não. Hoje estou disponível apenas para mim mesma. Já fechei a loja e bloqueei todas as perguntas. Hoje só me quero afeiçoar a mim, fazer as pazes com os meus instintos.

Ecoam músicas diferentes pelas paredes e no chão, vozes dóceis que me arrepiam. Sinto-me capaz de ensinar-te agora os limites de nós e o amor que nos move a todos. Gosto de significados, já o disse a alguém, a quem merecia, a quem eu nunca esperei conseguir dizê-lo. É bom ter algo a que dar um significado, algo que seja só nosso, onde mais ninguém tem a chave para entrar.

Tenho calor e sono, febre e estranheza de dias passados, consumo impacientemente poemas breves, ignoro as chamadas pungentes da sensatez. Revejo-me no meu oásis de conversas e toques de sorrisos, mistérios de alma dóceis e ousados. Eu julgava que não gostava da perfeição até a encontrar numa forma obstinada e simples. A perfeição resume-se à simplicidade e à rebeldia de uma flor do campo, dançando ao vento, onde ninguém a julga e ninguém a prende. E por agora ninguém a pisa também. A flor deixa-se levar pela dança dos murmúrios. Gostava que fosse sempre assim.

Desenho com restos de lápis sonhos perfeitos. Simplifico palavras obscenas como amor ou saudade. Não se passa nada num raio de 12 horas passadas e já sinto a cabeça a andar à roda.

[ontem]


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