domingo, junho 03, 2007

Não sei que nome dar a isto

E de repente tudo se esvai… tudo se esgota. A casa está vazia. As paredes não gritam o teu nome. A mesa da cozinha parece o mais normal possível. Não há vestígios de visitas, papéis rabiscados de enigmas, latas vazias no chão a um canto, nada. A música que me lança o computador é de reivindicações. De amor também, mas de uma forma grotesca. De saudade principalmente. De velhas e novas sedes, poemas nostálgicos e promessas de dias bons, que se adivinham perto.

Estranho como tudo pode mudar de repente… e sem a gente dar por isso. Estranho como os dias vão passando em rodopio e eu vou fazendo contas ao que já passou. Quantos dias foram. Quantas vezes te imaginei a bater à minha porta. Quantos fragmentos de memórias me percorreram, quantas delas sobrevivem ainda. Estranho como as recordações mudam vertiginosamente consoante o humor. Afinal não é só a vontade e a consciência que se perdem, a memória também nos faz crer na aparente normalidade das coisas. Que o futuro sempre se escreveu assim, nessa tonalidade de cinza incandescente, pulverizante, que se me assemelha agora. Tudo em consonância com o plano supremo do universo, portanto.

Preciso de estudar por estes dias, mas não vejo a vontade. Preciso de me abstrair das conversas que me prendem. Invento-me e confirmo-me em pequenos nadas de pessoas que não sei de cor. Oiço o que me diz a rádio, o locutor de voz acesa com quem já me cruzei na rua, um dia. Até ele me incendeia as memórias com o seu sotaque exótico, vê lá tu. Achas isso normal??

Detenho-me em frente à sala vazia, fragilizada. Não ficarei aqui muito mais tempo, eu sei. Os desenhos do artista invadem o chão timidamente, vindos do armário, onde se atropelam. São como restos mortais que se impõem. Os meus são transparentes, felizmente. Assim ninguém vê. Pareço mais firme dessa forma, vestida de branco para mais uma dança no palco das incongruências. Ninguém me espreita as ideias desordenadas em compassos disformes, despidas do rigor que nunca souberam. Vou saltitando mentalmente por locais perdidos, pessoas demasiado perfeitas, tempos que não voltam mais. Apercebo-me de como tanta coisa me dá saudades por estes dias. Bolas para isso.

Escrevo palavras de tédio porque a alma me pede algumas, não compreendo nada do que escrevo. Cheiro ao vazio intenso que se dissipa na casa. Não está cá ninguém hoje. Estranho essas ausências porque me estranho a mim também. É que estou demasiado calma para as minhas palpitações de alma, demasiado rígida comigo mesma. Preciso de um escape. Preciso de ver a casa desarrumada, o chão numa peripécia caótica de latas e folhas, de fragmentos gritantes de vida, restos de frases insanas e doces, ideias alucinadas que se confiam no sofá da sala. Preciso de ver alguém. Serenamente. Sofregamente. Perto. Demasiado perto.

Hoje não sei se estou alegre ou abatida. Não tenho grandes motivos para nenhuma das coisas. Apesar disso tenho andado inspirada. Terrivelmente inspirada. Para muita coisa. Palavras principalmente, nem que sejam apenas de busca e divagação. Por isso acho que o dia não pode ser assim tão mau.


Gosto das pessoas que me inspiram.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Ah é verdad...dpois da-m 1 dica pa intitular o meu post..."