Apaguei a luz e os bonecos de sombras já não se movem como eu julgava, uma voz de piano mudo não se ouve como eu gostava, e sinto-me disléxica quando escrevo para ti. Às vezes não sei medir por dentro o verdadeiro tamanho das coisas, e depois não sei se disse as palavras certas ou se me fiz entender da melhor maneira. Não queria falar de coisas banais que não me definem, nem a ti, nem ao mundo no qual combato em teu nome, procurando segurar os filamentos do pouco que ainda não se tornou completamente inútil e abstracto, de uma realidade demasiado parva e incongruente para nós, onde tento mover-me sem cair nos buracos. Porque às vezes as coisas fogem do seu devido lugar, e no escuro tu nem te apercebes, e esbarras contra as muralhas de outros castelos, e percebes que já não és dali.
Não quero viver dentro de uma mala, está escuro e não se respira bem lá dentro. Ou então só preciso de olhar para ti esta noite, enquanto me sinto ausente e vazia, e perceber pelos teus olhos que existo mesmo, fora de uma caixa de vidro, fora do que as pessoas me delinearam, só por mim mesma, e depois em ti, só em ti. E não ter medo de cair, nunca mais.
Hoje parece que as coisas não páram de fazer sentido.
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