sábado, fevereiro 14, 2009

O copo ainda não está vazio...

O tempo quebra-nos os dedos. A bebida tornam-nos frágeis. Então partimos, partimos num horizonte sem eco, sem pegadas. As pessoas todas ficaram para trás, chegamos onde já não as conseguimos chamar. Já nem sabemos o nosso próprio nome, pois tudo se esvaziou sobre um labirinto de frases vazias. E, contudo, parece que nos caem nas mãos, as palavras, caem-nos nas mãos. 
Bebe mais um gole. Deixa-te invadir por essa inconsciência que te leva todas as razões, até ficares só com a vertigem e os estilhaços que potencialmente te pertencem. E o desejo, as mágoas, o regresso. Se pudesses regressar a um tempo que já não existe, não saberias fazê-lo. Já não sabes ser o que eras quando não eras o que agora és. Já não sabes ser aquilo que não queres.
Tenta preservar a alucinação só por mais um par ou dois de minutos, até teres certeza. Depois podes sair, e oferecer a alguém todas essas palavras que te caíram nas mãos. Pronunciá-las como deve ser, como um verso mal construído que de tão honesto nos faz estremecer. E saberes fazê-lo, agora que te sabe bem fazê-lo. Na verdade, não saberias dizer tudo isto de outra forma que não esta. Mais uma vez, só o dizes pela metade.
Era tudo tão mais simples para ti se todas as noites fossem sexta-feira agarrada ao seu peito enquanto a música soava, ou sábado de manhã enquanto no teu cérebro tocavam notas idênticas a essas. E tu a tentares tocar as teclas de um piano imaginário, no meio dos lençóis e do perfume a incenso e a sofreguidão.
Tenho medo de um dia acordar e não ver o teu rosto. 


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