E sinto-me cronofóbica porque receio compulsivamente o tempo que atrofia nos impulsos do relógio. E sinto-me frágil, desajustadamente frágil, como a canção que se entranhava outrora nas paredes, como se delas precisasse num rompante de vontade que devasta à noite as telas inventadas. Mas o sol desperta um novo dia e sei-te agora inevitável. Uma presença súbita da qual não abdico.
E vejo o tempo definhar nas minhas mãos vazias, não sei como o controlar. E esvai-se em sangue uma ferida aberta cedo demais, que as evidências da vida não ensinam a curar. É um fardo perverso o de ter de me suportar. E saio de mim e mergulho no que sou. Cada vez mais fundo. E mais, e mais.
E eu não sei quando deixei de vislumbrar as linhas que teciam a razão de todas as razões. Os ponteiros arrastam-se eternos em buracos negros de um infinito inteiro que me esgota, e como esgota… As palavras dóceis e a sensatez… Só o pulsar das veias me acelera em milhares de anos, em milhares de vezes, em mil espelhos por cima do meu corpo, violando mil vezes as sombras onde o luar se detém maliciosamente à espreita. É onde não temo a curva do tempo pois ele é de uma cor voraz que não existe. E as mãos perdidas por entre as nossas sombras não estão vazias nunca mais.
E afinal o tempo é o que fazemos dele.
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2 comentários:
"fardo perverso o de ter de me suportar"
às vezes é isso mesmo... às vezes perdemos o chão e a razão... (às vezes sinto que o peso angustiante dos dias me esmaga a cada rasgar dos segundos que eu não sinto e eu só me apercebo disso quando já não sei de mim...)
texto com sabor a devaneios demasiado próximos do abismo? tem horas que nos sentimo mesmo assim, n é... mas gosto do final, as mãos preenchidas... quentes... como o coração?...
beijoca amiga
bem afinal até sabias o k escrever trenguita ;)
(dá pra ver q eu tb gosto do final, depois da tangente :p) **
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