domingo, outubro 28, 2007

Let's dance

Escolho um banco atrás das janelas e das portas de vidro embaciadas. Acendo uma vela, deixo o mundo do lado de fora. Alguém se sentou à minha frente e eu só lhe vejo as sombras da cara e as mãos pousadas no meu copo e no cigarro. Dói-me a cabeça de não me lembrar o nome, agito-me freneticamente no silêncio das falas. Ele estende-me a mão, a que repousava no copo, com a outra puxa o cigarro inexistente. – Queres que te conte algo engraçado? Respondo que não, não, não suporto mais coisas engraçadas e fúteis a entrarem-me nos ouvidos. Ele levanta-se sem o copo e o cigarro e convida-me para dançar. – Mas não há música, digo eu, incerta, frágil. – Não faz mal, tu também não estás aqui.

Escolho um banco atrás das janelas e das portas de vidro embaciadas. Acendo uma vela. O mundo está lá fora à minha espera.

Vamos dançar por agora.

1 comentário:

Vaskio disse...

Fui ouvir o David para entrar no tom certo. Consigo ver as janelas embaciadas a humedecer-te a visão do mundo lá fora, e a fazerem-te pensar que dentro é que se está bem. Mas nem sempre estamos bem no regaço da ilusão que criamos em frente à lareira. Mesmo que dancemos como nem gostamos de dançar. Mas entendo que muitas vezes, dançar é tudo que importa, na curta pista que é a vida iludida que tomamos.