sexta-feira, outubro 05, 2007

Noite

Deixaste-te cair no meio da inércia que te despenteava as horas e as ideias, a solidão adiada para outras vidas que não esta por onde te deixas emergir agora. Cantaste baixinho, onde não te ouvissem dizer asneiras, assim como largaste de vez o choro quando já não aguentavas mais fingir que não sentias. Refugiaste-te nos vazios, longe dos outros, dos confrontos, das mentiras, dos reflexos escuros da janela que te recordavam o Outono a invadir a rua, afinal não era só dentro de ti que a estação mudava e as flores morriam, os estilhaços de ti em ti, no chão dos pés e da calçada pisam agora os dias de Verão num para sempre inadiável. Anoitece dentro de ti e a lua cheia é alucinação. Mas tu não sabes disso. Sobra-te a tendência enérgica para a vertigem de ti nos outros, na embriaguez pálida dos teus sentidos em êxtase, no doce soar da guitarra que tocam por ti, porque os teus dedos ainda não se habituaram ao insubmisso dedilhar das cordas e dos sentimentos. Porque nunca to permitem. E tu não te apercebes agora que te afastaste de casa sem olhares para trás, porque a tua rosa-dos-ventos não faz mais algum sentido, como nunca o fizera no passado. A tua mente é um caos e tu fazes amor com ela, enquanto não reage às tuas ocas investidas. Vasculhas as manhãs das palavras interditas, falas contida para alguém do silêncio que vês lá fora. Anoitece, já disse? Aí dentro, mais que nunca. E pouco te importa, porque já o sabias, em antecipação às pautas da melodia.

1 comentário:

Anónimo disse...

you just feel the need of something when you loose it... right?...

(tens aqui cada frase que até dá arrepios... fogo...)

beijo x**