domingo, dezembro 02, 2007

A análise e a submissão.

Almas analisadas e dissecadas até á exaustão e ao absurdo. Ad eternum. Ad nauseum.

Casas germinadas. Pessoas germinadas. Aquelas que são sempre o apêndice de alguém. Odeio casas germinadas.

Sou abordada por pessoas de quem não vejo o rosto, falam de coisas cansativas sem nexo. Não tenho tempo para tentar encaixar as peças do enredo. Não tenho tempo para analisar os contratempos e os compassos de espera. Espero impacientemente o próximo comboio.

(Convites tardios, olhares desarrumados. Aqueles locais, àquelas horas com aquelas pessoas.)

Visto-me da cor dos prédios e procuro leis de anatomia. Leis do cosmos. As que definem a cor dos prédios. Não, as que definem as pessoas. Analisá-las, dissecá-las. Às almas. A missão desses senhores de gravata às riscas do jornal das oito a fazer perguntas. Odeio pessoas que analisam.

(E estava muito escuro ali dentro, e eu perguntava as direcções certas para chegar a algum lado, e tu dizias frases que eu não entendia, pois eram perfeitas e simples, e eu ouvia-te a ti, só a ti. No meio da escuridão das telas mal pintadas.)

Gostava de ser outro tipo de gaja. Outro tipo qualquer. Daquelas que complicam sempre tudo e ficam sempre bem nas fotografias. Daquelas que falam abusivamente como quem toma cafés e copos de água e lêem a Margarida compulsivamente. Queria ser, só por um dia, para ver como era. E depois voltava à minha pele e sustinha a respiração. Como fazemos antes de mergulhar na serenidade do vácuo.

Não compreendo as pessoas que lêem a Margarida. Não compreendo como fazem para perder o chão.

(E o copo a cair no chão sem querer, e tu sabias que o teu olhar me apertava contra a parede…)

Mas eu não sou esse tipo de gaja. Não sei sequer se sou algum “tipo” de gaja. É o cúmulo da debilidade humana, banalizar as coisas. Tipificar, analisar. Os idiotas dos nossos modelos são a personificação do tédio. Só que usam a roupa dos estilistas, por isso parecem atraentes.

A mim isso não me parece nada atraente.

(E a vertigem a abater-se em mim em milhares de ecos, e a minha voz a tentar conter a submissão dos gestos, e os pontos de fuga cada vez mais ocos e distantes... E as minhas mãos a afastar as tuas mãos, e eu a não querer perder o chão e a razão...)

A ponte à hora certa. A sair do Porto, quando a noite nasce cedo. Luzinhas no escuro invasoras da privacidade de pensamentos dispersos. Além mais ao fundo, casa. No final da estrada.
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E hoje não me apetecia nada voltar.

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