quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Danço na escuridão do quarto. Agora estou sozinha. No meio de mim, no mais fundo de mim, debaixo das flores, das palavras, dos lençóis, fico eu. Sou só eu aqui, despida de coisas, a dançar na escuridão, por entre os dedilhados, acordes dos meus dedos, das minhas imperfeições. Reparo que deixaste impressões digitais aqui, junto à luz redonda do canto dos livros, se calhar é só impressão minha. Às vezes não penso direito, preciso que me digas que sou bonita, de alguma forma, entre os cobertores do sono, diz-me que sou bonita de alguma forma, como no filme. As pessoas não percebem e eu não as percebo, tudo é um enigma no meio do caos que nos devora a voz e os membros. Eu gostava de aprender mais depressa a entender as pessoas e a gostar de todas elas, e a perceber o que elas querem dizer quando não dizem o que querem dizer, e a sentir todas as coisas da maneira certa, e as razões e os vaticínios. Há dias onde a neblina é demasiado densa e não consegues vislumbrar os sinais de luz, nem perceber o alcance de todas as coisas, e se valerá a pena, algum de nós. Entristeces as pessoas porque há pessoas que te entristecem. Eu só preciso que tomem conta de mim, de vez em quando. Vamos fingir que escrevemos o enredo e ele tem muitas metáforas, e nós não questionamos nada e tudo se parece com um bailado em câmara lenta, entre as luzes e a vodka o ruído das pessoas.

Vou-te imprimir no chão e em todas as paredes, algures, onde não nos possam ver, onde as coisas não têm nome e nós não as nomeamos nunca. Vou contigo para a praia ouvir o mar e o silêncio que de lá emana como um vórtice, e nem vou perguntar nada, vou só ficar assim a olhar para ti. Ah, se tudo fosse idêntico aos meus sonhos, e a musica soasse simbiótica e frágil. Se todas as manhãs me trouxessem flores e a primavera fosse hoje, e tu me dissesses que a lua nos tinha criado nesta noite e que os fantasmas não existem e eu acreditava.

E sim, se calhar sou um bocado fraca e uso muitas cores na alma para tapar o resto, diz-me que sou bonita assim, entre os cobertores do sono, como no filme. E diz-me que os outros não existem.




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